“Vê se pode isso ser tema de pesquisa?!”: A trajetória diacrônica das construções idiomáticas com [VÊ/VEJA SE] S no português brasileiro

Título: “Vê se pode isso ser tema de pesquisa?!”: A trajetória diacrônica das construções idiomáticas com [VÊ/VEJA SE] S no português brasileiro
Orientador: Prof. Dr. Diogo Oliveira Ramires Pinheiro
Coorientador: Prof. Dr. Diego Leite de Oliveira
Páginas: 137

Resumo

Esta dissertação busca delinear a trajetória diacrônica das construções idiomáticas de avaliação negativa com [VÊ/VEJA] SE S (como em “Vê se não se atrasa” e “Vê se isso é hora de acordar”) no português brasileiro. Tendo como arcabouço teórico a Gramática de Construções Baseada no Uso e o modelo de mudança proposto por Traugott e Trousdale (2013), buscamos fornecer explicações acerca do surgimento e posterior desenvolvimento dessas construções na língua. Para isso, adotamos, do ponto de vista metodológico, a análise quantitativa e qualitativo-interpretativa de dados extraídos do Corpus do Português. Em síntese, o que os resultados demonstram é que a primeira construção idiomática com [VÊ/VEJA SE] S, especializada na função de dirigir uma cobrança ao interlocutor, surge no século XIX a partir de um mecanismo de neoanálise de construtos de uma construção específica de imperativo com complemento oracional. No século XX, esta construção recém-surgida dá origem, via analogização, a uma segunda construção idiomática com [VÊ/VEJA SE] S, cuja função é a de manifestar discordância em relação a uma crença atribuída a um dado Sujeito de Consciência. Finalmente, os dados revelam que o século XXI parece contar com o surgimento de uma terceira construção idiomática – a Construção [VÊ SE] PODE (S) –, que se dá devido à alta frequência de uso da segunda construção com o predicador verbal “poder”. Vale destacar que a análise da trajetória diacrônica dessas construções confirma parcialmente as previsões do modelo construcionista de Traugott e Trousdale (2013) para a mudança linguística.

Palavras-chave: construções idiomáticas; vê/veja se; neoanálise; analogização; mudança linguística.

 

Abstract

This thesis aims to outline the diachronic trajectory of the idiomatic constructions of negative appraisal with [VÊ/VEJA SE] S (as in “Vê se não se atrasa” and “Vê se isso é hora de acordar”) in Brazilian Portuguese. Based on the theoretical framework of the Usage-Based Construction Grammar and on the approach to language change proposed by Traugott and Trousdale (2013), it is aimed to provide explanations about the emergence and subsequent development of these constructions in the language. Thereunto, we adopted as methodology the quantitative and qualitative-interpretative analysis of data extracted from the Corpus do Português. In summary, what the results demonstrate is that the first idiomatic construction with [VÊ/VEJA SE] S, specialized in the function of making a demand to the interlocutor, emerges in the 19th century from a mechanism of neoanalysis of constructs of a specific imperative construction with orational complement. In the 20th century, this newly emerged construction gives rise, via analogization, to a second idiomatic construction with [VÊ/VEJA SE] S, whose function is to manifest disagreement with a belief attributed to a Subject of Consciousness. Finally, the data reveal that the 21st century seems to count on the emergence of a third idiomatic construction – the [VÊ SE] PODE (S) Construction –, which is due to the high token frequency of the second construction with the verbal predicator “poder”. It is worth mentioning that the analysis of theses constructions partially confirms the predictions of the Traugott e Trousdale (2013) constructionist model for language change.

Keywords: idiomatic constructions; vê/veja se; neoanalysis; analogization; language change.

Categorias: Dissertações
Autor: Dennis de Oliveira Alves