Orientador: Prof(a). Dr(a). Marcelo Alexandre Silva Lopes de Melo
Páginas: 80
Resumo
Este trabalho versa sobre variação de formas no particípio passado, observando uma possível ampliação da rede de conexões das formas participiais formadas pela consoante velar [ɡ] por meio da captura de formas inovadoras como trago e chego. A pesquisa realizada tem por base estudos da Teoria Sociolinguística Variacionista (Weinreich, Labov e Herzog, 2006 [1968]), a qual concebe a língua como um sistema heterogêneo capaz de abarcar as diferentes formas linguísticas utilizadas pelos falantes de um determinado grupo e também utiliza os Modelos de Exemplares (Bybee, 1995, 2010; Silva; Gomes, 2020), o qual postula que todas as palavras são armazenadas no léxico do falante e os padrões morfológicos emergem a partir de uma rede organizada de relações lexicais. Estudos sobre o PB (Barbosa, 1993; Lobato 1999; Silva, 2008; Miara, 2013) mostraram que as formas inovadoras de particípio passado – tais como trago e chego – estão sendo produzidas pelos falantes e que há uma certa preferência pela forma irregular. Para atingir os objetivos, o trabalho contou com dois experimentos: um de produção e outro de avaliação. Os participantes foram estudantes universitários do curso de Letras da UFRJ. Os dados do experimento de produção permitiram atestar o uso das formas inovadoras de particípio passado, as quais parecem ser capturadas por redes mais robustas formadas por outras formas de particípio que possuem a consoante velar sonora [ɡ]. Assim, face à robustez da rede de itens de formas de particípio passado como pago e pego, outros itens são atraídos para essa rede em razão de sua semelhança fonética e semântica com os itens dessa rede mais robusta. Soma-se a isso o fato de as forma inovadoras de particípio passado já serem formas existentes da língua. O experimento de avaliação foi aplicado como forma de observarmos como a experiência de ouvir e falar pode influenciar o falante, pois a avaliação positiva ou negativa sobre as formas inovadoras pode acelerar ou retardar sua propagação. Como tarefa do experimento, os participantes deveriam associar formas regulares e irregulares de particípio passado a três perfis profissionais que espelham avaliações sociais distintas em termos de prestígio social. Dessa forma, os resultados do experimento de avaliação permitiram observar que as formas inovadoras de particípio – sobretudo das formas chego e trago – não foram, de uma forma geral, avaliadas negativamente pelos participantes do experimento, uma vez que houve ou uma maior associação dessas formas ao perfil intermediário ou uma distribuição bem equilibrada entre os perfis. Conjugando os experimentos de produção e avaliação, é possível que a emergência das novas formas de particípio se deva a um processo de analogia por meio do qual formas já existentes na língua (chego e trago) sejam capturadas por redes mais robustas de formas de particípio (pego e pago), tendo em vista a similaridade fonética e semântica. Além disso, uma avaliação mais positiva dessas formas inovadoras pode ser um fator de propagação dessas formas pela comunidade de fala.