Valores sociais em escala de variáveis fonológicas do português carioca.

Orientador: Prof(a). Dr(a). Christina Abreu Gomes
Páginas: 000

Resumo

A presente pesquisa buscou observar a questão da avaliação social de variantes de variáveis fonológicas, a partir da observação do comportamento de falantes universitários da comunidade de fala do Rio de Janeiro, com o objetivo de verificar se os valores sociais atribuídos às variantes observadas se organizam em um contínuo para além da dicotomia prestígio/estigma. Foram observadas variantes de três variáveis fonológicas do português brasileiro, a saber: a vogal oral, que alterna com ditongo nasal átono final (garagi ~garagem), o tepe, que alterna com a lateral em onset complexo (framengo ~flamengo), e a fricativa posterior (velar/glotal) em coda (mehmo ~mesmo), buscando estabelecer seu grau de indexação social, no sentido de verificar se há estigma e se este é percebido da mesma forma nessas produzidas em contexto de alta tensão comunicativa. Os dados foram obtidos através de experimento para acessar o valor social das variantes com base no experimento de Labov et al. (2011). A pesquisa se baseia no que é conhecido sobre a estratificação social observada nos estudos com dados de produção espontânea das variantes das variáveis estudadas (GOMES et al., 2013; GOMES, 2021; MELO, 2017). O suporte teórico do estudo conjuga os pressupostos da Sociolinguística Variacionista, no que diz respeito à definição do conhecimento linguístico como contendo a heterogeneidade estruturada, sendo a variação observada na fala a expressão da heterogeneidade estrutural, e da relação entre língua e sociedade, postulados por Weinreich, Labov e Herzog (1968), e os pressupostos dos Modelos Baseados no Uso (BYBEE 2001, 2010; PIERREHUMBERT, 2003, 2016), no que diz respeito à relação entre conhecimento abstraído e uso, à organização do conhecimento linguístico do falante e status da variação na gramática. Com base em Labov et al. (2011), foi elaborado um experimento com estímulos orais em que o participante teria que indicar se o candidato estaria apto ou não para ocupar o cargo de âncora de jornal de TV em uma escala entre 1 (certamente não) e 5 (certamente sim). O experimento contou com 40 participantes, todos estudantes universitários da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cada participante ouviu uma lista com cinco blocos: um de cada variante (vogal oral, tepe em onset complexo e fricativa posterior em coda) e dois com sentenças de controle. Cada bloco continha quatro sentenças com estrutura de manchete de notícia, lida por voz feminina. Após ouvir cada bloco, o participante respondeu ao comando avaliando a performance da candidata à função jornalística pretendida. Foram organizadas quatro listas que diferem quanto à ordem de apresentação das variantes. O experimento foi precedido de uma fase treino a fim de proporcionar maior entendimento da atividade. A hipótese de trabalho foi a de que poderia haver um contínuo em que o tepe em onset complexo, dado seu caráter de estereótipo social (Gomes, 2021; Gomes et al., 2022), seria avaliado como mais inadequado para a situação comunicativa do experimento que a coda fricativa posterior, e mais distanciado da vogal oral que alterna com ditongo nasal em final de nomes. Os resultados obtidos na regressão linear mista mostraram que há uma distância de inadequabilidade entre o rotacismo e a vogal oral, mas não em relação à coda fricativa posterior. Por outro lado, a ordem de apresentação dos blocos de estímulo se mostrou significativa, de maneira que, no geral, as três variantes receberam mais avaliações negativas que na Lista 1. Também houve interação entre ordem e variante, sendo que houve mais avaliações negativas do tepe na Lista 2 comparativamente à avaliação das sentenças de controle que na Lista 1. Tomados em conjunto, os resultados para o valor social de variantes produzidas em situação de alta tensão comunicativa, a partir do julgamento de falantes de nível universitário, mostram que é importante explorar
possibilidades de nuances de avaliação, que podem se distribuir em um contínuo e que podem estar relacionadas com fatores como a relação entre variantes, observada nas diferentes ordens de apresentação dos blocos, a situação comunicativa propriamente dita, no caso a apresentação de um jornal de TV, e o perfil social dos participantes em função de alguma característica, como a escolaridade, no caso da presente pesquisa.


Palavras-chave: Sociolinguística Experimental; Percepção; Avaliação social; Variação sonora.

Categorias: Dissertações
Autor: Giselle Gaspar de Assis Silva