Significados sociais da variação teu/seu: investigando percepções e avaliações sociolinguísticas na variedade carioca

Orientador: Prof(a). Dr(a). Thiago Laurentino de Oliveira

Páginas: 135

Resumo

A presente dissertação se propõe a investigar a percepção e a avaliação dos falantes do
português brasileiro (PB) – naturais da cidade do Rio de Janeiro – diante dos pronomes
possessivos de segunda pessoa do singular (2SG) teu e seu. São explorados nesse estudo
os significados sociais indexicalizados ao uso dessas variantes, sobretudo a variante teu,

forma historicamente vinculada ao paradigma do pronome pessoal tu. Nossa
investigação se fundamenta nos pressupostos da sociolinguística variacionista (Labov,
2008 [1972]), uma vez que assumimos que as formas possessivas teu e seu estão em
variação no PB. Também nos baseamos no postulado de significados sociais da variação
(Eckert, 2012; 2019), tendo em vista que acreditamos que variáveis linguísticas podem
indexicalizar significados sociais diversos, podendo expressar valores como ‘intimidade’,
‘juventude’, ‘modernidade’, entre outros. São objetivos específicos desta pesquisa: (i)
analisar a percepção e a avaliação dos falantes diante da variação entre as formas
possessivas de segunda pessoa do singular teu e seu; (ii) comparar dados de percepção
linguística com os resultados de estudos anteriores que investigaram dados de produção
linguística (Pereira, 2016; Tosi, 2021); (iii) identificar quais significados sociais estão
sendo indexicalizados ao uso dessas variantes possessivas. Hipotetizamos que: (i) os
falantes percebem e avaliam as formas possessivas teu e seu de maneiras distintas, sendo
mais sensíveis sociolinguisticamente à presença da forma possessiva teu; (ii) os
resultados de percepção dialogam com os resultados das pesquisas de produção (Pereira,
2016; Tosi, 2021) no que diz respeito ao índice de formalidade; (iii) o possessivo teu
indexa significados sociais diversos e é percebido e avaliado como o possessivo mais
grosseiro e informal, e o possessivo seu transitaria de forma mais fluida entre esses
registros, figurando em usos mais genéricos e pouco específicos. Em termos
metodológicos, foram adotadas duas abordagens experimentais diferentes,
intencionando investigar de forma adequada os aspectos subjetivos do fenômeno em
questão. Dito isso, nossa análise se dividiu em duas etapas. No primeiro momento,
adotamos a metodologia que se enquadra no que Freitag (2018) classifica como
abordagem direta; nessa, os falantes são interpelados pelos pesquisadores a emitirem, de
maneira aberta e livre, suas opiniões acerca do fenômeno linguístico em investigação.
Em um segundo momento, foram aplicados dois experimentos baseados na tarefa de
julgamento com escala de diferenciais semânticos (cf. Schütze; Sprouse, 2014). Os dois
experimentos que foram aplicados possuíam o mesmo formato estrutural, apenas se
diferenciavam pelos estímulos auditivos utilizados. Tais experimentos funcionavam da
seguinte forma: os participantes foram expostos a diferentes estímulos sonoros contendo
frases em que apareciam os pronomes teu e seu, e tiveram que julgá-los segundo um
conjunto de índices estilísticos tais como agressividade, gentileza e masculinidade. Com
isso, intencionávamos captar as nuances subjetivas no julgamento dos falantes, que
eram registradas automaticamente com a utilização da escala Likert de cinco pontos. Os
resultados obtidos nos experimentos forneceram evidências favoráveis às hipóteses em
análise, uma vez que temos observado que os falantes cariocas percebem e avaliam as
formas possessivas teu e seu como estratégias possessivas dissemelhantes. Além disso, foi
observado que o pronome teu foi associado a diferentes significados sociais, tais como
grosseria e informalidade, enquanto a forma possessiva seu se apresentou como uma
variante menos marcada, de caráter genérico, sendo mais bem aceita em diferentes
situações comunicativas.

Categorias: Dissertações
Autor: Brenda Gonçalves Tosi