Orientador: Prof(a). Dr(a). Christina Abreu Gomes
Coorientador: Prof(a). Dr(a). João Antônio de Moraes
Páginas:169
Resumo
Estudos sociolinguísticos mais recentes têm focalizado a intersecção linguagem e
orientação sexual. Esta pesquisa tem como objetivo verificar a indexação social de
orientação sexual, observando o comportamento da produção e da percepção da
fricativa coronal (s) em posição de coda na fala de homens gays cariocas. Como base
teórica para este trabalho, são utilizados os pressupostos da Teoria da Variação
(LABOV, 1972) que postulam que a variação linguística é inerente ao conhecimento
linguístico do falante e não é autônoma, isto é, reflete o universo das relações sociais, por
meio das quais os falantes se inserem, se relacionam e interagem. Ademais, consideramos
também os pressupostos teóricos dos Modelos Baseados no Uso (BYBEE, 2001, 2010;
PIERREHUMBERT, 2002) que postulam um caráter representacional à variação. Para
a elaboração desta pesquisa foi construída uma amostra de fala espontânea, estratificada
por Faixa Etária e Escolaridade, com 18 indivíduos homossexuais masculinos cariocas –
Amostra Identidades Cariocas. O objetivo foi verificar – assim como já verificado em
estudos de língua inglesa (CRIST, 1997; LINVILLE, 1998) e também em estudos de
língua portuguesa (BARBUIO, 2016; SENE, 2022) – se os homens gays cariocas tendem
a produzir a fricativa coronal surda [s/ʃ] em posição de coda mais alongada do que os
homens heterossexuais. O motivo da estratificação da amostra a partir da faixa etária
dos indivíduos é que buscamos investigar se os homens gays mais velhos – aqueles que
nasceram antes ou durante o período militar em que houve maior repressão à
homossexualidade, podem assumir uma maneira de falar diferente de acordo com suas
pistas linguísticas comparativamente aos gays mais jovens – depois que alguns direitos
LGBT+ foram estabelecidos – que podem se diferenciar mais em relação aos homens
heterossexuais. Outra hipótese que vem sendo discutida na literatura é a de que homens
homossexuais têm uma fala mais próxima da de mulheres assim, buscamos responder
também se homens homossexuais têm uma fala parecida, quanto à duração da coda (s),
com a de mulheres heterossexuais. Para atingir esses objetivos, num primeiro momento,
foram coletados 2428 dados da Amostra Identidades Cariocas que foram comparados a
1721 dados provenientes da Amostra do grupo controle (Amostra Concordância –
CORPORAPORT/UFRJ) – sendo eles 849 dados de fala de homens não gays e 872 dados
de fala de mulheres. Esses dados foram submetidos a rodadas estatísticas no programa
Jamovi que verificaram que nenhuma das variáveis sociais atestadas (Escolaridade e
Faixa Etária) resultou em diferença significativa, assim como as variáveis Amostra e
Tonicidade da Sílabas também não resultaram. Somente a variável Posição da coda
mostrou relevância significativa para o grande grupo de dados. A hipótese de que os
homens gays mais novos (1ª Faixa = 0.089s; 2ª Faixa = 0.076s) produziriam codas (s)
mais alongadas que as codas (s) dos homens gays mais velhos (0.096s) não foi
confirmada. Em um segundo momento, foram analisados os quatro tipos de codas
silábicas em separado (Átonas Finais e Mediais, Tônicas Finais e Mediais) e os resultados
mostraram que somente as análises das codas tônicas mediais resultaram em diferenças
significativas – com duração média de 0.080s para os homens gays e 0.067s para os
homens não gays. Nas análises das codas mediais tônicas para os grupos de falantes não
gays e mulheres, não houve diferença entre as amostras (0.067s para os homens não gays
e 0.073s para as mulheres). Quanto às análises das codas mediais tônicas entre os grupos
de homens gays e mulheres, os resultados verificados também não mostraram relevância
significativa (0.080s para os homens gays e 0.073s para as mulheres), ou seja, a duração
das codas (s) tônicas mediais dos homens gays é similar a duração das codas (s) tônicas
mediais das mulheres. Em conjugação ao estudo de produção, foram propostos dois
experimentos de percepção. Em relação à percepção, parte-se da hipótese de que, se a
duração alongada da coda (s) é característica da fala de homens gays, então a percepção
da orientação sexual de homens gays tem relação com a duração da coda nos estímulos e
que haveria maior acurácia na percepção desses falantes pelos participantes com a
mesma orientação sexual. No Experimento 1, em que analisamos os indivíduos,
verificamos que os falantes heterossexuais foram majoritariamente percebidos como
pessoas que soam heterossexual, diferente do grupo de falantes gays em que três do total
de seis falantes foram percebidos majoritariamente como pessoas que soam
heterossexual. Ademais, para o grupo de falantes heterossexuais houve uma tendência
em serem avaliados como heterossexuais principalmente pelos juízes ouvintes de mesma
orientação sexual. No Experimento 2, o que analisa os dois grupos de falantes – gays e
heterossexuais – em separado, o grupo de falantes gays foi majoritariamente percebido
como gay, assim como o grupo heterossexual foi percebido como hetero. Quanto ao efeito
da orientação sexual do participante na avaliação da orientação sexual do falante do
estímulo, não foi observada influência da orientação dos participantes já que as
tendências de avaliação foram sempre as mesmas para todos os quatro grupos de
participantes.
Palavras-chave: Coda (s); Orientação Sexual; Teoria da Variação; Modelos de Exemplares.