Processamento e representação de palavras complexas por derivação: um estudo sobre a sufixação do português brasileiro

Título: Processamento e representação de palavras complexas por derivação: um estudo sobre a sufixação do português brasileiro
Orientador: Christina Abreu Gomes
Páginas:
 187

Resumo
Nesta tese, investiga-se como ocorre o processamento e a representação lexical de palavras morfologicamente complexas no Português Brasileiro e, mais especificamente, o grau de analidabilidade sincrônica das formas derivadas por sufixação. Nos Modelos Baseados no Uso, parte-se da hipótese de que há uma relação entre cognição e uso, de maneira que o uso afeta o conhecimento linguístico abstrato e vice-versa. Portanto, postula-se que a frequência de ocorrência e de tipo têm impacto no processamento e na representação dos itens lexicais etimologicamente complexos armazenados na mente dos falantes. Vários estudos mostram que os efeitos da frequência da base ou raiz e da palavra inteira desempenham um papel importante no processamento morfológico. Assim, alguns estudos apontam que as palavras complexas de alta frequência estão mais propensas a serem segmentadas em subpartes enquanto as palavras de baixa frequência apresentam uma tendência maior para serem recuperadas inteiras no léxico mental. Por exemplo, Burani e Caramazza (1987) encontraram evicências de efeitos de frequência de ocorrência e de tipo no italiano. Em estudo mais recente, Burani e Thornton (2003), prevê que uma palavra complexa para ser decomposta ou recuperada integralmente da memória depende da razão entre a frequência da base e da palavra derivada. Neste caso, as palavras morfologicamente complexas podem ser acessadas por duas vias (rota direta e rota decomposicional) que atuam em paralelo e competem entre si, afetando o grau de analisabilidade do item lexical. Nesta pesquisa, a frequência de tipo dos sufixos foi aferida na base de dados do projeto Avaliação Sonora do Português Atual (ASPA/UFMG), sendo selecionados os morfemas derivacionais: (a) -dor, -eiro, -oso, -mento, -ista e -idade, de alta frequência de tipo; (b) e, -ete, -ância, -ência, -ato, -ela e -tico, de baixa frequência de tipo. Para extrair a frequência relativa entre base e palavra derivada, utilizou-se o banco de dados de escrita do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC/SÂO CARLOS) e a base de dados de fala espontânea do C-Oral Brasil (UFMG). Esse levantamento permitiu-nos compor as listas de palavras complexas para os quatro testes experimentais presentes neste estudo: um teste de relacionamento morfológico; um teste de relacionamento semântico entre base e palavra derivada; um teste para medir o efeito da frequência de tipo dos sufixos derivacionais; e, um teste de decisão lexical. Os experimentos foram formulados para aferir os processos envolvidos na representação de palavras morfologicamente complexas e, mais especificamente, avaliar o papel da frequência relativa na analisabilidade de formas derivadas bem como o efeito da frequência de tipo no processamento dos estímulos empregados nos testes experimentais. Os resultados revelaram que a frequência de tipo, a frequência relativa e a relação semântica entre base e derivado afetaram a velocidade de processamento e o modo como as palavras derivadas por sufixação estão representadas na mente dos falantes. Dada a granularidade da estrutura morfológica das palavras complexas, quando a base é menos frequente que o derivado, as palavras derivadas por sufixação são interpretadas ou analisadas na sua forma plena (palavra inteira). Em contrapartida, nos casos em que a base é mais frequente que o item derivado, as palavras complexas são representadas inteiras e suas partes são analisáveis e participam de esquemas que compartilham a mesma base ou o mesmo sufixo. Esses resultados corroboram as hipóteses de representação e de organização do léxico em redes de relações lexicais e apresentam evidência adicional que efeitos de frequência têm impacto na representação.

Categorias: Teses
Autor: Maria Fernanda Moreira Barbosa