Processamento e percepção da concordância verbal variável de P6 entre universitários da cidade do Rio de Janeiro

Orientador: Prof(a). Dr(a). Marije Soto
Páginas: 165

Resumo

O presente estudo se coloca em uma interface entre a sociolinguística variacionista e a
psicolinguística, com o objetivo de investigar o processamento e a percepção da concordância
verbal variável de terceira pessoa do plural (P6) entre universitários da cidade do Rio de Janeiro,
apontada como um ambiente de input variável para o fenômeno (SCHERRE, 1994; SCHERRE;
NARO, 1998; JAKUBÓW, 2018), contrastando essas realidades linguísticas com construções
agramaticais. Para isso, foi aplicado um experimento que consistia em duas partes: um
teste de leitura automonitorada e um teste de julgamento sentencial. No primeiro, os
participantes (N = 72) liam, palavra por palavra, trechos de entrevista que simulavam respostas a
perguntas do cotidiano. Em cada um desses trechos, havia três ocorrências de segmentos de
interesse, compostos por sujeito + verbo, em três condições experimentais, a saber: (i)
concordância redundante, como em eles falam; (ii) concordância não redundante, como em eles
fala, um estereótipo linguístico dentro do PB (LUCCHESI, 2015; FREITAG, 2015); e (iii)
concordância agramatical, como em *eles falo. Dados de investigação desse mesmo fenômeno
dentro da psicolinguística tem indicado custos de processamento mais elevados para a
concordância não redundante, quando comparada à redundante (MARCILESE et al., 2015; 2017;
HENRIQUE, 2016), mas esses dados não revelam a proporcionalidade desses custos, já que
não evocam o ‘teto’ de custo, que acreditamos ser a agramaticalidade, permitindo
comparabilidade. Além disso, mais de uma ocorrência de segmentos críticos nos permite
testar efeitos de atenuação no monitor sociolinguístico (LABOV et al., 2011), ainda
pouco explorado nessa interface no Brasil – inédito, até onde sabemos. Já no teste de
julgamento sentencial, os participantes (N = 54) ranqueavam trechos de entrevista aos quais
tiveram acesso no teste de leitura automonitorada. Nossos resultados indicaram um
processamento que separa claramente os tempos de leitura nas três condições, mas que tende a
aproximar os tempos de leitura dos segmentos críticos com concordâncias redundante e não
redundante ao longo das ocorrências, o que não acontece com as sentenças com construções
agramaticais, podendo indicar uma gramática variável que reconhece a concordância não
redundante como parte de sua representação. No teste de julgamento sentencial, nossos resultados
indicaram que os tempos de leitura automonitorada aparentemente não foram
influenciados por quaisquer concepções que os falantes tivessem sobre as construções, em um
nível mais consciente.


Palavras-chave: processamento; percepção; variação linguística; concordância verbal; Rio de Janeiro

Categorias: Dissertações
Autor: Wellington Couto de Almeida