Título:Povo e língua Jaminawa (variedade de Kayapucá): da realidade social às formas linguísticas e às categorias aspecto-temporal, modo e negação
Orientador:Marília Facó Soares
Páginas: 261
Nesta tese, focalizamos a manifestação e a configuração sintática das categorias de tempo, aspecto e modo (TAM) e da categoria de negação na língua Jaminawa, variedade falada na TI Kaiapucá (Boca do Acre-AM). Para tanto, o trabalho está dividido em seis capítulos: Introdução – onde abordamos as características gerais da pesquisa que deu origem a esta tese, os agentes sociais Jaminawa envolvidos e os objetivos principais do trabalho; Capítulo I – aspectos metodológicos que subsidiaram o desenvolvimento da tese; Capítulos II e III – localização dos grupos Jaminawa, aspectos sociais dos agentes indígenas que participaram deste trabalho e a situação de uso da língua Jaminawa na Terra Indígena Kayapucá, mais precisamente na aldeia Kayapucá; Capítulo IV – discussão sobre as categorias TAM e a categoria negação na língua Jaminawa; Parte V – análise dos traços linguísticos relevantes nas categorias gramaticais pronomes e nomes e das categorias TAM e negação em uma perspectiva minimalista (CHOMSKY, 1999). Neste capítulo, há uma discussão sobre uma possível viabilidade da proposta de um nódulo de Modo para projetar as categorias de aspecto e tempo em Jaminawa, a partir da hipótese de Soares (2006), que propõe um sintagma Modo para as línguas Pano. Em se tratando das categorias TAM, estas são estruturas, morfologicamente marcadas ou não, ocorrentes em sentenças de acordo com a sua orientação sequencial, temporal ou epistemológica (PAYNE, 1997, p. 233-234). Acrescente-se que a categoria de tempo é associada à sequência de um evento em uma situação real; a categoria de aspecto se relaciona com a estrutura temporal interna do evento; enquanto a categoria de modo se refere à atitude e ao comprometimento do falante quanto à probabilidade da veracidade do evento tratado. De acordo com Comrie (1976, p. 1-2), o tempo tem relação com o momento de realização da ação, tomando como base o tempo presente. Por sua vez, o aspecto está relacionado à estrutura interna do evento. Para este autor, a categoria de tempo é dêitica, pois aponta o momento de realização do fato, enquanto a categoria de aspecto não está relacionada ao momento da situação (tempo de ocorrência da ação), mas à estrutura interna do evento. Na língua Jaminawa, a nossa hipótese é a de que os falantes distinguem os eventos verbais apenas em realizados (onde se pode comprovar a veracidade do fato (PAYNE, 1997)) e não-realizados (sendo que a certificação da veracidade do fato não pode ser feita), ou seja, esta língua apresentaria a categoria modo com o traço binário [realis] ([ +realis]). Desta forma, poderíamos relacionar o modo com o traço [+realis] da língua ao tempo passado (tendo o presente/agora como base) e o modo com o traço [-realis] ao tempo não-passado (eventos não realizados, em realização ou que ainda irão se realizar), o que nos permite considerar a proposta de Soares (2006), quanto à possibilidade de se pensar em uma projeção funcional Modo (ModP), como relevante para língua Jaminawa. Propor um sintagma Modo para o design sintagmático da língua Jaminawa é relevante devido às seguintes evidências na língua: as diferenças entre os morfemas aspectuais e temporais são motivadas pelo Modo com o traço binário [ + realis]. O modo com o traço [+realis] (fatos realizados) desencadeia a manifestação do morfema aspecto-temporal /-a/, enquanto os modos imperativo /-wɨ/ [βɨ], exortativo /-ta/ e desiderativo /-pai/ [paj], que codificam o traço [- realis] (fatos não realizados ou ainda a realizar), não coocorrem com morfemas aspecto-temporais /-i/ e /-tiɾu/, cuja concretização do fato não é atestada pelo falante ou ainda irá ocorrer. O fato de os morfemas aspecto-temporais citados não ocorrerem simultamente aos de modo evidencia que os primeiros apresentam traço de modo [-realis]. No tocante ao aspecto, ao que tudo indica, os falantes Jaminawa parecem se certificar de que a ação está concluída ou não, o que nos faz propor que a língua apresenta, como nos termos de Comrie (1976), uma oposição básica entre os aspectos com traço [+perfectivo] ou entre [perfectivo] e [imperfectivo]. Por último, atestamos que existe uma dissociação entre os traços-phi que compõem os morfemas TAM, levando-nos a propor uma dissociação entre os núcleos funcionais Asp e T, ambos projetando os sintagmas AspP e TP, sendo o primeiro mais alto que o segundo na hierarquia sintagmática da língua sob análise.