Título: O plural das palavras terminadas em -ão: mudança ou variação estável?
Orientadora:Christina Abreu Gomes
Páginas: 98
Este trabalho trata da alternância na marca de plural dos nomes terminados em -ão na comunidade de fala do Rio de Janeiro. Os objetivos foram (1) verificar se o que ocorre com o plural dessas palavras é um caso de mudança em direção ao plural em -ões ou um caso de variação estável; (2) verificar que tipo de inferência probabilística o falante faz em relação à formas de plural disponíveis no léxico; e (3) verificar se as propriedades lexicais dos itens que compõem a rede de palavras com plural em -ãos, -ães e -ões têm alguma influência na inferência do tipo de plural mais produtivo. Os dados foram obtidos por meio de dois testes linguísticos, um contendo palavras reais da língua portuguesa terminadas em -ão e outro contendo pseudopalavras terminadas em -ão. Os dados obtidos no primeiro foram analisados em função da frequência de ocorrência do item no plural, do plural esperado para o item, da faixa etária do indivíduo, do sexo, da escolaridade, e do item lexical; os dados obtidos no segundo, em função do número de sílabas, do falante, do sexo, e do estímulo. Os resultados do primeiro teste revelaram que (1) quando há alternância na marcação de plural, a variante mais adotada é -ões; (2) itens com baixa frequência de ocorrência no plural e itens com plural esperado em -ães são os que mais adotam o plural -ões; (3) os indivíduos que possuem apenas o Ensino Fundamental são também os que mais adotam este plural; (4) os jovens e os indivíduos com 50 anos ou mais não demonstram diferença significativa no uso desta variante inovadora; (5) algumas palavras estão bem mais propensas à adoção da terminação -ões do que outras; e (6) que a inferência acerca do tipo de plural é feita a partir da relação entre a forma base e a forma no plural de um grupo de palavras dentro do léxico e não a partir do léxico como um todo. Por fim, os resultados do segundo teste revelaram que (1) quando não existia a influência do item lexical (quando os falantes não estavam lidando com palavras reais) houve um maior uso de -ões do que de -ãos e -ães para a marcação do plural de itens com duas e três sílabas, mas não para a marcação de itens monossílabos, uma vez que para estes houve um maior índice de -ãos; e (2) que, na ausência de uma forma de plural representada no léxico, não houve a aplicação de uma regra default do tipo acrescente -s.