Orientador: Prof(a). Dr(a). Diogo Oliveira Ramires Pinheiro
Páginas: 142
Resumo
Na literatura que investiga a relação entre linguagem e autismo, embora haja um
número expressivo de pesquisas sobre a compreensão de linguagem figurada por
pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ainda há certa
escassez no que diz respeito aos estudos que focalizem a interpretação de
enunciados pressuposicionais por esses indivíduos – algumas importantes exceções
são Cheung et al. (2017; 2020) e An (2020). Diante disso, esta pesquisa se propõe a
investigar, sob uma ótica cognitivo-funcional, a maneira como os indivíduos com
TEA lidam com estruturas que contêm gatilhos de pressuposição – nossa hipótese,
com base no que a literatura já nos revela, é a de que pessoas autistas possuem mais
dificuldades do que pessoas neurotípicas para compreender esses enunciados. Além
disso, um segundo objetivo nasce a partir da análise semântico-pragmática proposta
para a Construção de Contraexpectativa com Bem (CCB) em Sousa (2021) – e
verificada empiricamente em Portela (2021) –, que sugere implicitamente, ao
descrevê-la como um marcador de contraexpectativa, a existência de um tipo de
pressuposição diferente dos já abarcados pela tipologia de Lambrecht (1994). Com
base nisso, hipotetizamos que exista um novo tipo ou subtipo de pressuposição,
chamado aqui de pressuposição de expectativa (e que seria, segundo a nossa
proposta, mais difícil de interpretar do que a pressuposição de conhecimento). Para
testar essas duas hipóteses simultaneamente, foi realizado um experimento de
escolha forçada, do qual participaram 32 pessoas autistas (entre 18 e 59 anos) e 32
pessoas neurotípicas (entre 18 e 25 anos), envolvendo dois tipos de disparadores de
pressuposição: a CCB (exemplo de pressuposição de expectativa) e verbos de
mudança de estado (VME; exemplo de pressuposição de conhecimento). Em suma,
os resultados obtidos confirmaram a nossa primeira previsão e refutaram a segunda,
sugerindo que (i) pessoas com TEA, em comparação com pessoas neurotípicas,
possuem mais dificuldades para compreender sentenças pressuposicionais; e (ii) há
maior dificuldade de processamento em relação ao VME do que à CBB; o que,
embora conteste nossa previsão inicial, ainda nos permite defender a existência da
pressuposição de expectativa.
Palavras-chave: Pressuposição; autismo; pragmática; experimento psicolinguístico