Funk e mudança lingüística: uma análise sociométrica

Título:Funk e mudança lingüística: uma análise sociométrica
Orientador:Maria Cecilia Magalhães Mollica
Páginas:
160

A partir da suposição de que palavras, expressões e processos morfológicos empregados no universo funk são apropriados por jovens que não pertencem às comunidades em que essas canções são compostas, o presente trabalho propôs-se a verificar se, na fala distensa de um grupo de adolescentes, estudantes de uma mesma escola privada da cidade do Rio de Janeiro, pertencentes à classe média alta, esses itens lexicais seriam percebidos. Para tal, efetivou-se coleta de dados nas letras do Proibidão, subgênero do funk carioca. A análise dos dados obrigou-nos a recorrer a estudos morfológicos em função da presença de muitos itens formados a partir do acréscimo do morfema –ão. Também valemo-nos de contribuições da Lingüística Cognitiva, uma vez que o corpus continha um número significativo de palavras e expressões cunhadas metaforicamente. No entanto, por considerar a língua em uso, no seio das comunidades de fala, correlacionando aspectos lingüísticos e sociais, o instrumental teórico da Sociolingüística é preponderante no estudo. Os jovens, cuja fala observamos, foram submetidos a uma análise sociométrica, técnica criada pelo psiquiatra romeno J.L. Moreno (1972), que consiste na representação gráfica das relações sociais no grupo, a partir das perguntas de um questionário e da subseqüente tabulação das respostas. A análise de sociogramas, em que se levou em conta a presença ou ausência de ligação dos informantes com o funk, possibilitou-nos a imediata visualização da configuração do grupo, que se mostrou bastante alterada, em cada uma das situações. Tais configurações foram cotejadas com a presença ou ausência dos dados. Após tais procedimentos, verificamos poucas ocorrências dos elementos lingüísticos em questão e concluímos que, por mais que os movimentos culturais pareçam fortes e penetrantes, a língua só assimila inovações quando há condições positivas para isso. Quando barreiras normativizadoras e de natureza avaliativa do ponto de vista negativo estão presentes, a mudança lingüística fica inviabilizada.

Categorias: Dissertações
Autor: Flávia Diniz de Souza Coutinho