Orientador: Prof(a). Dr(a). Marcelo Alexandre Silva Lopes de Melo
Páginas:87
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo analisar o comportamento de falantes nativos de
hebraico, a partir de duas variáveis sociolinguísticas: o het – que pode ser realizado
como uma fricativa, faringal, surda [ħ] ou como uma fricativa, velar, surda [x]; e o ayn
também como uma fricativa, faringal, surda [ʕ] ou como uma oclusiva, glotal, surda [ʔ].
De acordo com Gafter (2016), as realizações de het e ayn são condicionadas a partir do
grupo étnico dos falantes, bem como pelo contexto de interação em que os falantes se
encontram inseridos. As variantes faringais das duas variáveis, ainda de acordo com
Gafter, são estigmatizadas. Isto porque a origem judaica evidencia as diferentes formas
de falar dos falantes de hebraico: os judeus oriundos da Europa (ashkenazis) constituem
o grupo social de prestígio, o que faz com que variantes linguísticas associadas a este
grupo sejam percebidas como prestigiadas; por outro lado, judeus oriundos do Oriente
Médio (mizrahis) constituem a camada menos privilegiada da sociedade israelense,
sendo o seu falar também menos prestigiado. Assim como as faringais são associadas a
um falar mizrahi, estas variantes tendem a ser estigmatizadas e, consequentemente,
evitadas em contextos que não estejam relacionados à religião. Isto porque, em
contextos religiosos parece entrar um outro componente importante para a realização
das variáveis em análise: o purismo. Assim, apesar de estigmatizado, o falar mizrahi,
por estar associado às origens históricas do hebraico, está associado a um falar mais
puro e conservador, sendo, portanto, as variantes faringais percebidas como mais
adequadas para contextos religiosos. A fim de observar o comportamento de diferentes
grupos de falantes de hebraico, foram recrutados participantes de diferentes grupos
étnicos para a leitura de dois textos, sendo um não-religioso (notícia) e outro religioso
(bênção). Participaram das leituras um grupo formado apenas por ashkenazis; um grupo
formado por mizrahis não iemenitas; um grupo formado por mizrahi iemenitas. O
objetivo era verificar (1) se haveria diferentes comportamentos dos falantes a partir dos
diferentes grupos étnicos em relação às duas variáveis e (2) se haveria influência do
contexto – religioso e não-religioso – para a realização das variáveis. Os resultados
apontam para diferença no comportamento dos grupos a partir da origem étnica: falantes
ashkenazis e mizrahis não iemenitas não produziram variantes faringais em nenhum dos
dois contextos observados. Em relação aos falantes mizrahis iemenitas, foi possível
observar a realização das variantes faringais para as duas variáveis, sendo ainda possível
observar um aumento destas variantes na leitura da bênção. Assim, os resultados
evidenciam não só a estratificação social das variáveis, bem como influência do
contexto para a realização das variáveis.