Título:Dissociação entre Tempo e Aspecto na Aquisição da Linguagem
Orientador:Celso Vieira Novaes
Páginas:168
Linha de pesquisa:
Este trabalho investiga a representação linguística de Tempo e Aspecto a partir de um estudo de caso, de caráter longitudinal, dos estágios iniciais do processo de aquisição, com base em dados de produção espontânea e semiespontânea. Colocamos à prova as hipóteses de que (A) os morfemas de tempo e aspecto, ao emergirem, refletem apenas os traços de aspecto lexical, inerentes ao verbo, e (B) os traços de tempo e aspecto ocupam nódulos sintáticos distintos na estrutura sintática sentencial. Os resultados indicaram que o morfema de passado perfectivo se associa ao aspecto lexical culminação, ao emergir, no estágio de uma palavra, passando a se associar, também, a processo culminado e atividade no estágio de combinações múltiplas; o morfema de presente imperfectivo contínuo não progressivo, ao emergir, no estágio de uma palavra, associou-se ao aspecto lexical estado; e o morfema de presente imperfectivo contínuo progressivo, ao emergir, aos 24 (vinte e quatro) meses, durante o estágio de duas palavras, associou-se ao aspecto lexical atividade, passando a se associar, também, a processo culminado, aos 25 (vinte e cinco) meses. Logo, a hipótese A não foi refutada, pois, ao emergir, os morfemas de perfectivo, imperfectivo contínuo não progressivo e progressivo refletiam, respectivamente, os traços de pontualidade, estado ou duratividade do aspecto lexical. Para dar conta da associação do imperfectivo ao processo culminado, no estágio de duas palavras, propomos que a propriedade semântica telicidade é subespecificada nos estágios iniciais, de uma e duas palavras, indo de encontro à proposta de Li e Shirai (2000), de que esse traço ocasiona associação ao perfectivo. Defendemos que a proposta de classificação aspectual de Verkuyl (2002), privilegiando a composicionalidade aspectual, em detrimento da classificação ontológica de Vendler (1967), mostrou-se mais adequada para o tratamento dos dados. Assim, propomos um único traço de aspectualidade para o verbo, que, no estágio de uma palavra, indica, de forma restrita, transição de estado, e, no estágio de duas palavras, passa a indicar, também, progresso dinâmico e não estatividade. Numa análise das diferentes formas verbais produzidas pela criança, verificamos a associação de morfemas diferentes a um mesmo verbo, além de representações sintáticas indicativas de movimento verbal ou checagem de traços, evidenciando que, no estágio de duas palavras, as formas gerundivas apresentam checagem de traços de aspecto gramatical, e, no estágio de combinações múltiplas, a forma perifrástica (“ser + -ndo”) apresenta checagem de traços de Tempo e Aspecto. Logo, a hipótese B não foi refutada. Defendemos, então, a dissociação entre Tempo e Aspecto, a partir da existência de um nódulo AspP, dominado por TP. Este estudo tem como diferencial a credibilidade de que os registros representam, de fato, as produções iniciais de Tempo e Aspecto e destaca a importância de uma análise que não se restrinja a verificar as associações entre o aspecto lexical e a morfologia de tempo e aspecto, incluindo o exame dos estágios de aquisição da linguagem e da emergência de outros elementos sintáticos e movimentos verbais, para validação das propostas acerca da camada funcional da estrutura sintática.