Direcionalidade da mudança sonora: o papel do item lexical e da avaliação social

Título:Direcionalidade da mudança sonora: o papel do item lexical e da avaliação social
Orientador: Christina Abreu Gomes
Páginas:
 156

Resumo

A presente pesquisa compara o comportamento de grupos sociais distintos da comunidade de fala do Rio de Janeiro em relação a duas variáveis fonológicas – o (s) em coda e o (r) em coda interna –, com o objetivo de buscar mais evidências acerca do papel do item lexical na propagação da mudança sonora, bem como da possibilidade de desenvolvimento de diferentes padrões linguísticos em uma mesma comunidade de fala. A hipótese é que as diferentes representações mentais incorporam as mesmas possibilidades fonéticas disponíveis para os falantes da comunidade de fala, mas com distribuições probabilísticas diferentes, em função da experiência (social) dos indivíduos. A análise dos dados de produção foi realizada: a) para o (s) em coda, por meio da comparação entre os dados de produção obtidos junto à Amostra Fiocruz e os resultados já encontrados para as Amostras EJLA e CENSO 2000 (MELO, 2012); b) para o (r) em coda, por meio dados de produção obtidos para a o (r) em coda interna nas três amostras que integram a presente pesquisa. Além disso, como as diferentes direcionalidades podem estar associadas à dinâmica social de diferentes classes sociais e valores sociais atribuídos às formas linguísticas, foram realizados testes de avaliação envolvendo as duas variáveis, a fim de atestar se a avaliação das diferentes variáveis é a mesma para todos os indivíduos da mesma comunidade de fala. Os testes foram aplicados em indivíduos dos grupos sociais aos quais pertenciam os falantes das amostras EJLA e Fiocruz, além de indíviduos com padrões sociais semelhantes ao grupo de falantes selecionados a partir da amostra CENSO 2000 e que integram essa pesquisa (estudantes de Letras da UFRJ, pertencentes à classe média média e média baixa). Os resultados apontam para a existência de diferentes padrões linguísticos relativos aos três grupos no que diz respeito às duas variáveis. Isto porque, em relação à produção do (s) em coda, os falantes do subgrupo da amostra Censo 2000 e os adolescentes da Fiocruz apresentam um padrão muito semelhante em relação à variação do (s) em coda, padrão este que é bem diferente daquele apresentado pelos adolescentes da EJLA. Esse padrão também pode ser observado em relação à avaliação dessa mesma variável: os falantes universitário da classe média média e média baixa (UFRJ) e do grupo Fiocruz apresentam padrões muito semelhantes de avaliação e, ao mesmo tempo, muito distinto daquele observado para o grupo EJLA. Relativamente à produção do (r) em coda interna, os adolescentes da Fiocruz se aproximam dos adolescentes da EJLA, mas, quanto à avaliação das variantes dessa variável, os adolescentes da Fiocruz apresentam um comportamento interessante: no tocante à avaliação da não-realização da coda, esses adolescentes se aproximam da avaliação realizada pelos falantes universitários da classe média média e média baixa (UFRJ), porém, no tocante à avaliação da outra variante analisada (realização da coda), os adolescentes da Fiocruz, se aproximam dos adolescentes da EJLA. Por fim, os resultados obtidos revelam a importância do item lexical para detectar se há diferentes direcionalidades de mudança entre grupos sociais de uma mesma comunidade de fala para diferentes variáveis sociofonéticas, como também revelam que o grau de integração o de jovens socialmente excluídos pode afetar o comportamento linguístico deste grupo.

Categorias: Teses
Autor: Marcelo Alexandre Silva Lopes de Melo