Dêixis e construal: uma abordagem cognitivista das formas ‘nós’ e ‘a gente’

Título: Dêixis e construal: uma abordagem cognitivista das formas ‘nós’ e ‘a gente’
Orientador: Diogo Oliveira Ramires Pinheiro
Páginas:
 251

Esta tese visa à caracterização da estrutura conceptual das categorias dêiticas formadas pelas expressões pronominais ‘nós’ e ‘a gente’, que indicam prototipicamente a 1ª pessoa do plural. A partir do referencial teórico da Linguística Cognitiva e, principalmente, com base na noção de construal (Langacker, 2008; Verhagen, 2005), o trabalho defende que os dêiticos ‘nós’ e ‘a gente’ ativam construals alternativos para a referência ao grupo de indivíduos formado por falante, ouvinte(s) e/ou outro(s) participante(s) não presente(s) no evento de fala imediato.
Para fundamentar a proposta, estabelece-se uma análise contextualizada desses dêiticos, a partir de dados de fala espontânea retirados de debates político-eleitorais televisionados, que reuniram candidatos a cargos de gerência pública (prefeito e presidente). A hipótese norteadora da pesquisa é a de que os dêiticos apresentam a mesma orientação intersubjetiva, mas contrastam quanto à focalização (organização figura-fundo). Dentro dessa perspectiva, a previsão é que o uso do dêitico ‘nós’ torna mais saliente a identificação individual dos participantes da cena comunicativa, colocando em proeminência a referência dêitica ao falante, seu(s) interlocutor(es) na interação e/ou demais participantes, enquanto a expressão ‘a gente’ subfocaliza a referência particular aos participantes da cena, deixando em destaque o grupo como um todo.
Com o objetivo de evidenciar o contraste entre os dêiticos, a análise busca associar as estruturas conceptuais propostas a contextos pragmáticos e discursivos particulares. Após a análise qualitativa preliminar, que permitiu estabelecer uma tipologia semântica para os dêiticos, os dados foram analisados quantitativamente e submetidos a tratamento estatístico (teste qui-quadrado de homogeneidade). Com relação aos tipos semânticos exclusivo, genérico, inclusivo e pseudoinclusivo, os resultados apontam diferenças estatísticas significativas; principalmente, no que diz respeito ao contraste mais geral entre usos exclusivos e inclusivos. No eixo pragmático, também se observam diferenças significativas com relação ao tipo de ato de fala realizado, verificando-se um contraste entre atos de fala compromissivos, de um lado, e assertivos/diretivos, de outro. Em relação a tipos textuais – em nível discursivo –, os dados indicam uma diferença significativa entre usos narrativo e argumentativo/expositivo.

Categorias: Teses
Autor: Viviane da Fonseca Moura Fontes