Título: Das cartas aos chats: a variação do objeto direto de 3a pessoa e a escrita informal no papel e na Web
Orientadora: Prof(a). Dr(a). Vera Lúcia Paredes Pereira da Silva
Páginas: 87
Resumo
Este trabalho se dedica à comparação entre chats privados e cartas pessoais a partir da análise da variação do objeto direto de 3a pessoa. Esses gêneros discursivos são característicos da escrita informal e apresentam determinadas propriedades que os assemelham à conversação espontânea – ainda que em diferentes graus. Apesar das semelhanças, notam-se marcantes diferenças entre eles, como os suportes nos quais se realizam e o (as)sincronismo com que se manifestam: os chats, realizados em plataforma digital de modo majoritariamente síncrono; e as cartas, escritas em papel, de natureza assíncrona. Compreendemos ainda, com Marcuschi (2008), que os gêneros se distribuem em um contínuo de relações entre fala e escrita, a partir das propriedades pelas quais se constituem. Desse modo, observamos dados de objeto direto de 3a pessoa em chats privados realizados pela plataforma Messenger em 2012 e em cartas pessoais escritas entre 1979 e 1984. Estabelecemos, pois, uma comparação entre essas duas amostras e a fala brasileira de períodos correspondentes (PINHEIRO, 2016; DUARTE; FREIRE, 2014), a partir da expressão variável do objeto direto de 3a pessoa em referência anafórica – um fenômeno que, no português do Brasil, se apresenta diferentemente em textos da modalidade oral, com predominância da anáfora zero e escasso uso de clítico acusativo; e em textos da modalidade escrita, sobretudo quando produzidos com maior monitoramento, nos quais se notam esforços para resgatar o uso de clítico. Partimos, então, de uma perspectiva variacionista laboviana (LABOV, 2008 [1972]), à qual conciliamos princípios funcionalistas e a análise de gêneros discursivos. Assim, controlamos três grupos de fatores já verificados em amostras de fala como influentes na expressão da anáfora zero: a animacidade do referente, a distância referencial e a função sintática do antecedente. Os nossos resultados apontam para uma maior aproximação entre os chats privados e as produções características do português brasileiro falado, com alto índice de anáfora zero e poucas ocorrências de clítico acusativo, além de todos os grupos de fatores controlados terem sido selecionados na análise estatística como relevantes na expressão da anáfora zero. Em relação às cartas pessoais, estas se distanciam da fala prototípica por apresentarem percentual significativo de clítico e apenas o traço [– animado] ter se mostrado fortemente correlacionado à expressão da anáfora zero. No entanto, esta variante mostra-se aquela com mais alto percentual de uso nas cartas investigadas, o que as aproxima do português falado, ainda que em menor grau. Apresentam-se, portanto, evidências sintáticas para a caracterização de gêneros discursivos da escrita informal – sobretudo dos chats, gênero discursivo digital – na sua relação com produções típicas da fala.
Palavras-chave: Sociolinguística Variacionista Laboviana; Objeto direto de 3a pessoa; Chats privados; Cartas pessoais.
Abstract
This work compares private chats and personal letters based on the analysis of the variation of third-person direct object. These genres are characteristic of informal writing, and present certain properties that resemble them to spontaneous conversation – albeit to different levels. Despite the similarities, striking differences between them are noted, such as the media in which they take place and the (a)synchronism with which they manifest themselves: the chats, carried out on a digital platform in a mostly synchronous way; and letters, written on paper, of an asynchronous nature. Furthermore, similarly to Marcuschi (2008), we understand that genres are distributed in a speech-writing continuum, according to the properties that constitute them. Thus, we observe third-person direct object data in private chats carried out through the Messenger platform in 2012 and in personal letters written between 1979 and 1984. We therefore establish a comparison between these two samples and the Brazilian speech from corresponding periods (PINHEIRO, 2016; DUARTE; FREIRE, 2014), starting from the variable expression of the third-person direct object in anaphoric reference – a phenomenon that, in Brazilian Portuguese, presents itself differently in texts of oral modality, with predominance of zero anaphora and little use of the accusative clitic; and in written texts, especially when produced with greater monitoring, in which efforts are noted to rescue the use of the clitic. We start, then, from a Labovian variationist perspective (LABOV, 2008 [1972]), to which we combine functionalist principles and genre analysis. Thus, we control three variables already verified in speech samples as influencing the expression of zero anaphora: the referent’s animacy, the referential distance, and the syntactic function of the antecedent. Our results point to a greater approximation between private chats and the characteristic productions of spoken Brazilian Portuguese, with a high index of zero anaphora and few occurrences of accusative clitic. Moreover, all groups of controlled factors were selected in the statistical analysis as relevant in the expression of zero anaphora in private chats. In relation to personal letters, they distance themselves from prototypical speech because they present significant percentage of clitic and only the [– animate] feature showed to be strongly influential in the expression of zero anaphora. However, this variant is the one with the highest percentage of use in the investigated letters, which brings them closer to spoken Portuguese, though in lower degree. Therefore, syntactic evidence is presented for the characterization of discursive genres of informal writing – especially chats – in their relationship with typical speech productions.
Keywords: Labovian Variationist Sociolinguistics; Third person direct object; Private chats; Personal letters.