Contato dialetal e o estabelecimento de uma variedade urbana em Imperatriz – Maranhão

Título:Contato dialetal e o estabelecimento de uma variedade urbana em Imperatriz – Maranhão
Orientador: Christina Abreu Gomes
Páginas:151

Linha de pesquisa: Tecnologia Linguística e Materiais Pedagógicos

O trabalho focaliza a formação de uma variedade urbana capturada em meio à mistura dialetal que se verificou na formação populacional de Imperatriz, cidade originalmente isolada na fronteira do Bioma Amazônico, no Sudoeste do Estado do Maranhão e que a partir dos anos sessenta teve um crescimento muito rápido com a chegada de um grande número de migrantes. Os dados foram analisados a partir do conceito de Koineização, formação de uma variedade a partir do contato entre falantes de variedades mutuamente inteligíveis, considerando a origem rural recente e o processo rápido de urbanização. Foram analisadas duas variáveis fonológicas: alternância entre a lateral palatal e a semivogal (mulher ~ muyé); alternância entre ditongo e vogal nasal átonos finais e vogal oral (homem ~ homi), e uma variável morfossintática: alternância entre presença e ausência de concordância verbal (cantaram ~ cantaru ~ cantou), usando dados de 18 falantes da Amostra de Imperatriz, estratificada por idade, sexo e escolaridade, através de uma perspectiva variacionista. Os dados coletados e analisados foram submetidos ao programa Goldvarb 2001 e Rbrul. Os resultados para as variáveis sociais revelaram que, para a variante semivogal, a distribuição por faixa etária sinaliza mudança em progresso no sentido de perda dessa variante e que não há diferença de comportamento entre os sexos feminino e masculino, sendo essa variante favorecida por falantes com baixa escolaridade. Para a ausência de concordância verbal, o perfil é de variação estável, ocorrendo na mesma proporção nos três níveis de escolaridade, sendo que as mulheres utilizam um pouco mais essa variante do que os homens. Para a variante vogal oral, os resultados indicam mudança em progresso no sentido de ampliação da variante nasal (ditongo ou vogal), não havendo diferença de comportamento entre os dois sexos, sendo os falantes menos escolarizados os que a favorecem. Assim sendo, na cidade de Imperatriz, o fenômeno dos dialetos em contato parece não ser apenas resultado de uma koineização, mas a formação de uma variedade que preservou algumas marcas regionais, típicas de fala rural, e descartou outras em função do contexto socioeconômico. O rápido processo de urbanização levou à diminuição das variantes estigmatizadas, as quais coexistem com variantes menos estigmatizadas. Quanto à alternância entre ditongo e vogal nasais átonos finais e vogal oral, os resultados obtidos para as variáveis estruturais revelaram favorecimento da vogal oral em vocábulos com maior número de sílabas; pelos nomes; pelas consoantes [-alto] e consoantes [+nasal] em contexto anterior e quando a próxima sílaba tônica está a distância de 2, 3 ou + sílabas da nasal final precedente. A análise da variação do ponto de vista segmental revelou ainda que a vogal oral tende a ocorrer em ambas as vogais-núcleo, com leve vantagem do núcleo ẽ; pelos mais velhos, independente da escolaridade; e por alguns itens lexicais, sendo, possivelmente, os que estão resistindo à implementação da nasal. Verificou-se, portanto, que tanto há motivação fonética, o efeito da próxima sílaba tônica, quanto efeito do item lexical no favorecimento da variante oral.

Categorias: Teses
Autor: Orleane Evangelista de Santana