Título:CONSTRUÇÕES DE POSSE PREDICATIVA EM LÍNGUA RUSSA: UMA ABORDAGEM CONSTRUCIONISTA
Orientador: Lilian Vieira Ferrari
Páginas: 92
Este trabalho tem como objeto de estudo as construções de posse predicativa em língua russa. A posse predicativa em russo, diferente do que ocorre em português, se relaciona com construções existenciais e é, por isso, constituída com o verbo iest’ (ser). Uma sentença como U menia iest’ machina, por exemplo, deve ser entendida numa tradução literal como “Junto a mim é carro”, correspondendo em português a “Eu tenho um carro”. No entanto, também se observa o uso de sentenças possessivas com a mesma estrutura do exemplo acima, porém com o verbo iest’ não realizado formalmente, figurando uma construção alternativa e contrastiva em relação à primeira. O presente trabalho se apoia na abordagem da Linguística Cognitiva de maneira geral, e na teoria da Gramática de Construções em particular, na qual se postula que o que caracteriza uma língua fundamentalmente é um inventário de construções, ou seja, um inventário de pareamentos de forma e significado, organizado na forma de uma grande rede. Também se postula que uma diferença na forma de uma construção reflete uma diferença semântica e/ou pragmática. É o que se chama de princípio da não sinonímia das formas gramaticais. O objetivo da pesquisa é, através da análise dos dados coletados do Natsional’nii Korpus Russkogo Iazika (Corpus Nacional de Língua Russa), descobrir quais são as diferenças de uso e de significado (semântico e/ou pragmático) das construções [U menia iest’ SN] e [U menia SN] em russo. Para isso, o trabalho se divide em duas partes: uma análise estatística, que procurou observar as correlações e diferenças de uso das construções em relação a diversas variáveis formais e semânticas utilizando o programa R; uma análise qualitativa, que procurou descrever e explicar os padrões distribucionais encontrados na primeira análise, bem como as questões semânticas e pragmáticas subjacentes na diferença de uso das construções. Adota-se a hipótese de que as duas construções apresentam diferenças de significado e uso, cada uma delas abrigando subconstruções específicas na rede construcional, e de que parte dessas diferenças, de acordo com cada subconstrução, se refere à perspectiva adotada pelo falante na conceptualização da posse. Na análise quantitativa, as variáveis de animacidade, e da relação de tipo e token do objeto da posse se mostraram relevantes estatisticamente. No que toca à análise qualitativa, observou-se uma estreita correlação entre as instanciações cujo objeto é vopros (pergunta) e a construção do tipo [U menia SN], tanto pela alta frequência de ocorrência, quanto pelas particularidades discursivas e pragmáticas. Essa correlação reflete o status independente da subconstrução [U menia vopros] na rede construcional.