Título:Construções clivadas no galego é o que vais ter
Orientador: Maria Luiza Braga
Páginas: 214
Resumo
O assunto “clivadas” ainda não foi sistematicamente estudado na língua galega e é precisamente sobre isso que este trabalho se debruça. Aqui, quatro construções são estudadas à luz de dados diacrônicos: Pseudoclivada Invertida, Pseudoclivada Extraposta, Construção SER QUE e Clivada Canônica. Quanto à sua estrutura, juntas, essas construções formam um conjunto de construções de foco razoavelmente correlatas, apresentando cada qual uma cópula e uma palavra QU. Dados do período que compreende o século XIII e o ano de 1980 foram analisados qualitativamente e quantitativamente a fim de tecer um panorama o mais acurado possível a fim de contribuir para a descrição do fenômeno de foco no galego. Adotou-se as propostas da Gramática de Construções Baseada no Uso (GCBU), que lança mão do arcabouço teórico da linguística cognitiva e linguística funcional, segundo os quais a língua emerge do uso em razão da capacidade humana de utilizar processos cognitivos de domínio geral para o processamento da linguagem. A GCBU propõe que a língua seja entendida como uma rede de nós e ligações entre esses nós. Cada nó diz respeito a uma construção, que é um pareamento convencionalizado entre forma e significado, bastante similar ao conceito de signo linguístico, já tão corrente nos estudos linguísticos. Em acordo com o defendido por Leite de Oliveira (2017) em relação ao russo, essas construções exibem articulação de foco argumental, sendo, portanto, construções de foco estreito. Propõem-se aqui a aplicação de uma tipologia do foco baseada em Dik (1981), além de uma ampla análise do tamanho, especificidade, status informacional e classe de palavras do elemento focalizado, bem como do processo, tempo e aspecto verbais, com a finalidade de apontar para as distinções que moldam as referidas construções, em acordo com a proposta de não- sinonímia de Goldberg (1995). Com base no Princípio da Motivação Maximizada, também de Goldberg (1995), observa-se a peculiar característica da construção Pseudoclivada com palavra “quen” atribuír traço causador a referentes inanimados. Para dar conta dessa realidade, foram propostas categorias ontológicas que, através de processos distintos e bem definidos, são capazes de serem cooptadas coercivamente por essa construção. Isso resultou na proposta de uma nova matriz de traços de animacidade. Além de tudo o que aqui já foi dito, com o intuito de facilitar o entendimento dos dados diacrônicos, e também com a intenção de propor novas abordagens para o problema da origem do galego, optou-se por apresentar uma breve história crítica dessa língua. A partir dessa narrativa, é proposto o uso do termo galego português para dar conta da variedade do galego falado abaixo do rio Minho, bem como rejeita-se completamente os termos galego-português ou português medieval.