Título:“As estratégias de relativização na fala de adultos maranhenses”
Orientadora: Maria Cecília de Magalhães Mollica
Páginas: 103
Linha de pesquisa:Estudo das Línguas Indígenas Brasileiras
Este estudo analisa, à luz do modelo teórico de estudo da variação e mudança referido como Sociolinguística Variacionista, as estratégias de relativização na fala de adultos maranhenses, levando em conta fatores linguísticos e sociais testados em outros estudos, com o objetivo de identificar, como se apresenta essa regra variável numa comunidade de fala ainda não estudada. A pesquisa se baseou em estudos anteriores, como os realizados com analfabetos do Rio de Janeiro (cf. Mollica, 1977) e com informantes da cidade de São Paulo, com diversos níveis de escolaridade (cf. Tarallo, 1983). Nossa variável sociolinguística levou em conta as relativas padrão, cortadora e copiadora e a análise foi apresentada em dois grupos – relativas que só admitem a padrão e a cópia (com os relativos em função de sujeito e objeto) e relativas que admitem as três variantes (com os relativos em funções oblíquas). Os resultados demonstraram baixa ocorrência de relativas copiadoras em todas as funções, tanto na fala dos adultos letrados como dos não letrados, um resultado que fica bem abaixo do encontrado na fala de adultos não alfabetizados em outras pesquisas. Quanto às relativas cortadoras, essas predominam principalmente na fala dos [-Letrados], o que confirma outros resultados. A diferença mais notável foi encontrada nas relativas padrão em funções oblíquas, com expressivo índice de ocorrências na fala dos [+Letrados], o que confirma o papel da escola e do contato com a escrita e a leitura na aprendizagem de tais estruturas. Entre os menos letrados, elas estão praticamente ausentes, exceto pelo uso do relativo “onde”, que é expressivo na nossa amostra em seu significado original e retomando um antecedente locativo. Os resultados indicam ainda, nos dados dos [-Letrados], a ausência dos relativos “quem” e “cujo” e apenas 3 ocorrências de “o qual” (embora usado de forma não canônica). A presença de todos os tipos de relativos na fala dos [+Letrados] sugere que é a escola que ainda consegue recuperar o quadro de relativos já ausente no PB oral. Uma análise de regra variável das relativas com funções oblíquas, que opôs relativas padrão a relativas cortadoras, já que a cópia não alcançou o estatuto de regra variável, tomando como valor de aplicação a relativa cortadora, apontou como fatores que a favorecem, nesta ordem, o grau de letramento, o tipo de preposição apagada e a função sintática do relativo. O gênero dos falantes, o traço de animacidade e o status informacional do antecedente não exercem efeito sobre variável. Da mesma forma, o fator processamento, ligado à distância entre o relativo e a posição canônica do constituinte relativizado, foi desconsiderado pelo Programa, certamente por ser, juntamente com os fatores de natureza informacional e semântica, um fator que atua como favorecedor da cópia, uma variante não considerada em nossa rodada de regra variável por alcançar índices que a colocaram como regra semicategórica. Foram confirmadas parcialmente as hipóteses levantadas em relação aos fatores sociais e estruturais. Entretanto, somente uma análise que contemple uma amostra estratificada por faixas etárias e diferentes níveis de escolaridade, entre outros fatores sociais, poderá permitir generalizações mais sólidas sobre o português do Maranhão e tornar comparações com as demais regiões e estados brasileiros possíveis.