Título:Aplicativas, infinitivas e periferia esquerda no crioulo de Guiné-Bissau.
Orientador: Marcia Maria Damaso Vieira
Páginas: 176
Esta tese tem por objetivo descrever e analisar alguns aspectos gramaticais da língua crioula de Guiné-Bissau (CG) que ainda não foram tratados por outros pesquisadores: (i) as construções dadas como passivas cujos sujeitos apresentam diferentes interpretações temáticas; (ii) a identificação de orações infinitivas em uma língua sem desinências verbais e de construções de Marcação Excepcional de Caso (ECM) e de controle de objeto; (iii) a constituição da periferia esquerda da oração e as posições ocupadas por diferentes tipos de tópicos. Para descrever e discutir essas questões tomamos como base as propostas de Pylkkännen (2002) e Cuervo (2003) para o problema das passivas, as de Radford (2004), de Ademola (2011) e de Kim (2013), dentre outros, para a identificação das formas infinitivas e das construções de controle de objeto e de ECM, as de Rizzi (1997, 2004), de Rizzi e Bocci (2017) e de Frascarelli (2012) para a periferia esquerda da oração e para os tipos de tópicos existentes.
Com a finalidade de atingir os objetivos aqui traçados, foram realizados testes de versão e de julgamento de gramaticalidade para a coleta de dados primários, junto a três falantes nativos do CG, todos residentes no Brasil.
Foi possível concluir que as passivas cujos sujeitos apresentam variadas interpretações temáticas são derivadas de estruturas que envolvem diferentes tipos de morfemas aplicativos, conforme as tipologias estabelecidas por Pylkkännen (2002) e Cuervo (2003): to-the – possession-of, from-the possession-of e posse estática (at) e aplicativo afetado. Também foi possível observar, seguindo Cuervo, que cada tipo de morfema aplicativo se combina com um determinado tipo de verbo. Constatamos que as orações infinitivas do CG são identificadas pela exclusão de ocorrência de um sujeito nominativo, já que não há infinitivos flexionados em línguas [-sujeito nulo].
Constatamos ainda que há uma diferença estrutural entre verbos de controle de objeto e verbos do tipo ECM. Os primeiros são bitransitivos, ao passo que os segundos são transitivos. Além disso, observamos que as construções de ECM envolvem uma regra de alçamento de objeto (Raising to Object), que desloca o sujeito subordinado para uma posição na oração principal em que recebe caso acusativo. O redobro de pronomes verificado nas estruturas ECM é justificado pela aplicação das operações de copy-Raising e copy-ECM, como sugeridos por Kim (2013) e Ademola (2011) para outras línguas.
Também concluímos que, na periferia esquerda do CG, é possível postular uma hierarquia de projeções funcionais igual a proposta por Rizzi (1997, 1999 e 2004) e que inclui também uma projeção para advérbios antepostos – ModP. O CG se caracteriza como uma língua com recursividade de tópicos altos e que licencia a posição de tópico baixo. Essas propriedades fazem parte da tipologia sugerida por Rizzi e Bocci (2017) para a manifestação de tópico nas línguas naturais. Os tópicos altos do CG podem ser realizados como deslocamento para a esquerda e podem ser identificados como do tipo aboutness topic, na classificação de Frascarelli (2012).