Título:A relação semântica de elaboração na fala e na escrita: forma e função
Orientadora: Maria da Conceição
Páginas: 139
Linha de pesquisa: Mecanismos Funcionais do Uso da Língua
Nesta Tese, analisamos a relação semântica de elaboração na modalidade falada e escrita do português brasileiro contemporâneo. Delimitamos nosso objeto de análise às elaborações que expandem um SN, procurando identificar as propriedades formais, semânticas e discursivas dessa relação lógico-semântica. Partimos da hipótese de que a elaboração desempenha um papel central não só na especificação/determinação de sintagmas nominais, mas também na orientação argumentativa do discurso. Uma outra hipótese é a de que as diferenças entre fala e escrita refletem uma estreita correlação entre as características formais e semânticas do SN elaborado e as características formais e semânticas do segmento elaborador. Para a verificação dessas hipóteses, utilizamos a Amostra Censo 80, como representativa da modalidade falada, e uma amostra de diferentes gêneros textuais (crônica, opinião, notícia/reportagem, editorial) coletados nos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Extra e O Povo. A análise considera inicialmente os subtipos de relação que se estabelecem entre os dois segmentos discursivos vinculados e, a seguir, as propriedades semânticas, morfossintáticas e discursivas dos sintagmas nominais elaborados, as propriedades dos segmentos elaboradores, os indicadores formais das relações entre eles e as funções textuais-discursivas da elaboração. Através de um tratamento quantitativo que permitiu verificar a distribuição dos dados de acordo com esses diferentes parâmetros, foi possível depreender as similaridades e diferenças decorrentes das especificidades na forma de planejamento de cada uma das modalidades. As diferenças mais relevantes dizem respeito ao tipo de SN elaborado: na escrita, predominam os rótulos com maior conteúdo semântico, tais como metalinguísticos e indiciais, relacionados prioritariamente com verbos do tipo mental. Na fala, prevalecem SNs com baixo conteúdo semântico, genéricos e essencialmente fóricos, associados, predominantemente, a verbos relacionais. Apesar dessas diferenças, a elaboração desempenha papel similar nas duas modalidades: constitui importante estratégia de especificação/identificação de referentes introduzidos como informação nova e, além disso, desempenha papel de relevo na organização discursiva, o que pôde ser observado principalmente através das correlações com as variáveis gênero e tipo textual. Mostramos ainda que funcionalmente a elaboração reflete a variação observada no tipo de SN elaborado. Na escrita, destaca-se a função de reforço de orientação argumentativa, relacionada aos rótulos metalinguísticos e indiciais. Na entrevista sociolinguística, além dessa função, ressalta também a de detalhamento de uma situação complexa, especialmente relacionada à expressão “o seguinte”. Dessa forma, concluímos que as características da elaboração decorrem, principalmente, dos objetivos comunicativos de cada gênero discursivo.