A interface entre sintaxe e pragmática na resolução de ambiguidade intrassentencial em português brasileiro e inglês australiano.
Título: A interface entre sintaxe e pragmática na resolução de ambiguidade intrassentencial em português brasileiro e inglês australiano
Orientador: Prof(a). Dr(a). Aniela Improta França
Coorientador: Marcus Maia
Páginas: 195
RESUMO
Esta tese tem como objetivo principal contrastar a correferência intrassentencial em Português do Brasil (PB) e no Inglês Australiano (IA). Um outro objetivo é verificar como a correferência intrassentencial se relaciona com outras características sintáticas e discursivas nessas duas línguas e quais estratégias e vieses guiam os falantes durante a resolução online de casos de correferência que suscitam ambiguidade. As hipóteses levantadas para meu trabalho são de que (i) havendo múltiplos fatores que levarão à resolução de ambiguidade, os fatores sintáticos são aplicados primeiro; (ii) como as duas línguas estudadas – PB e IA – são parametricamente diferentes quanto ao sujeito, sendo que PB aceita sujeito nulo e IA não, encontraremos estratégias diferentes de resolução de ambiguidade e uma dinâmica diferente de cada língua para incluir informações pragmáticas na resolução. Nessa tese foram aplicados três experimentos. Dois foram realizados em PB com a metodologia de eyetracking nos Laboratórios Acesin e Lapex e o terceiro, em IA, foi feito com leitura automonitorada e aplicado na Australian National University (ANU) durante o meu estágio doutoral em 2018. A variável independente desses três experimentos é a mesma: a semântica verbal, em três níveis: (i) com viés favorecendo a retomada pronominal com o sujeito; (ii) com viés favorecendo a correferência com o objeto; (iii), sem viés, neutra, de forma que a correferência poderia se dar com o sujeito ou com o objeto da oração principal. As medidas on-line dos Experimentos 1 e 2 foram (i) tempos de leitura total da frase, (ii) tempos totais de fixação por segmento; (iii) tempos de segunda passagem nas regiões de interesse, que são o sujeito e o objeto da primeira oração, o verbo, o objeto da segunda oração e o locativo da segunda oração, revisitados, tanto da direita para a esquerda quando da esquerda para a direita durante a leitura das sentenças e, finalmente (iv) a duração da primeira passada. Quanto às medidas off-line, elas corresponderam aos índices de acerto dos participantes em relação a perguntas de compreensão sobre cada item experimental. Já a medida on-line do Experimento 3 é o tempo de leitura de cada segmento; e a medida off-line são os índices de resposta dos participantes em relação a perguntas de compreensão sobre os itens experimentais. Os resultados dos testes aplicados mostram o quanto a correferência é um dispositivo cognitivo complexo que conta com diversos fatores no âmbito da sintaxe, da semântica, da pragmática e do discurso. Em busca de um modelo que dê conta da correferência pronominal e seu sincretismo cognitivo, foram analisados diferentes modelos de restrições. No entanto, nem um modelo que seja sempre moldado por restrições sintáticas nem outro que seja moldado pela semântica dos eventos deram conta em si de explicar os resultados online do processamento de estímulos de correferência intrassentencial que foram utilizados nesses experimentos em português e em inglês. Dessa forma, esse trabalho propõe uma análise interativa e que leva em conta um sistema de influências complexo e multifatorial que depende dos parâmetros de cada língua e que pode, assim, à luz deles capturar em tempo real a entrada dos fatores no processamento da correferência.
Palavras-chave: Correferência, Comparação linguística, Processamento
ABSTRACT
The main objective of this thesis is to compare anaphoric coreference in Brazilian Portuguese (BP) and Australian English (AE). Another goal is to verify how does coreference relates to other syntactic and discursive characteristics in these two languages, which strategies and biases guide speakers during the online resolution of ambiguous coreference sentences. My hypotheses are that (i) there are multiple factors that will lead to the resolution of ambiguity, the syntactic factors are applied first; (ii) as the two languages studied are parametrically different once BP accepts null subject and AE doesn’t, we will find different resolution strategies and different dynamics for each language to include pragmatic information in the resolution. Three experiments were applied. Experiments 1 and 2 were in BP with the eyetracking methodology at Acesin and Lapex Labs. Experiment 3, in AE, was done with self-monitored reading and applied at Australian National University (ANU) during my doctoral internship in 2018. The independent variants are the same for the three experiments: the verbal semantics, on three levels: (i) with bias favoring the pronominal resumption with the subject; (ii) with bias favoring coreference with the object; (iii), without bias, neutral, so the coreference could occur with the subject or the object of the main clause. The results show coreference as a complex cognitive device that has several factors in the scope of syntax, semantics, pragmatics, and discourse. In search of a model that accounts for anaphoric coreference and its cognitive syncretism, different models of constraints were analyzed. However, neither a model that is always shaped by syntactic constraints nor one that is shaped by the semantics of events was able to explain the online results of the sentence processing in these experiments in Portuguese and in English. In this way, I propose an interactive analysis that considers a complex and multifactorial system of influences that depends on the parameters of each language and captures the input of factors in the processing of correspondence in real time.
Keywords: Anaphoric Coreference, Linguistic Comparison, Language Processing