Título: A Construção Aspectual Inceptiva do Português com verbos não canônicos
Orientadora: Maria Luiza Braga
Páginas: 186
Linha de pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas Brasileiras
Adotando uma perspectiva baseada no uso, esta tese investiga a Construção Aspectual Inceptiva do Português (CI), que segue o padrão [(SN) V1fin (Prep) V2inf]. Foram analisados sincronicamente e diacronicamente os preenchimentos de V1 por cair, danar, deitar, desandar, desatar, disparar, entrar, pegar e romper. Realizaram-se buscas no Córpus do Português, no Córpus Conceição de Ibitipoca, no Córpus Juiz de Fora e Arredores e no Córpus Procon JF, com o intuito de examinar as relações sintático-semânticas que perpassam a CI e as relações subjacentes ao seu emprego. Com o intuito de verificar as relações sintático-semânticas entre os elementos que compõem a CI, foi realizado um estudo de caso que partiu do verbo pegar, o qual pôde ser observado tanto nas suas relações lexicais quanto gramaticais. Por meio dele, foi possível propor uma rede de motivações sintáticas e observar as restrições semânticas do uso de V1 e de Prep associadas à categoria de movimento. Uma análise diacrônica com vias a analisar a gramaticalização da CI corroborou essas restrições inclusive no que tange à escolha do V2. A aplicação do parâmetro da extensão e do princípio da persistência mostrou ser a CI uma construção em processo de gramaticalização, em que a posição de V1, com o passar do tempo, é preenchida por diversos verbos não canônicos, persistindo a categoria de movimento associada a eles, e, a extensão a novos contextos em que se restringem as ligações entre determinados V1 e tipos específicos de V2. Foram buscadas também evidências translinguísticas da metáfora de movimento na CI, visto que a linguagem é corporificada. Para tanto, analisaram-se dados em diversas línguas, as quais revelaram haver forte associação ao tipo semântico de V1 na CI não canônica do português com a do estoniano, espanhol, francês e japonês, por exemplo. Foi desenhado um experimento com vias a observar a relação corpo x linguagem e suas manifestações nos usos aspectuais. Essa pesquisa psicolinguística não mostrou dados estatisticamente relevantes no que tange à ativação neuronal de movimento e o uso de V1 que denote essa noção; ela colaborou com pesquisas já realizadas que demonstraram a inexistência de relações direção e velocidade de resposta no que diz respeito ao uso de expressões metafóricas.