A antinaturalidade de Pied-Piping em orações relativas

Título: A antinaturalidade de Pied-Piping em orações relativas
Orientador: Marcus Maia
Páginas: 237

Linha de pesquisa:Gramática na Teoria Gerativa

Dentre as línguas humanas, as orações relativas preposicionadas apresentam diferentes tipos de derivação estrutural. Em português, por exemplo, existem três estratégias por meio das quais uma expressão nominal sob regência de preposição pode ser relativizada. (1) Relativas pied-piping: A coisa de que eu falei na semana passada; (2) Relativas resumptivas: A coisa que eu falei dela na semana passada; (3) Relativas cortadoras: A coisa que eu falei na semana passada. Assim como nas demais línguas românicas, o português normalmente não licencia as relativas prepositional-stranding características de línguas como o inglês: * A coisa que eu falei de na semana passada. A antinaturalidade de pied-piping em orações relativas (APP) é uma hipótese que assume ser impossível para o Sistema Computacional da Linguagem Humana (CHL) derivar naturalmente relativas pied-piping, uma vez que qualquer uma de suas alternativas derivacionais será menos custosa a CHL. Isto é, na derivação de uma relativa preposicionada, as estratégias resumptiva e/ou cortadora (ou ainda prepositional-stranding em línguas como o inglês) devem sistematicamente bloquear pied-piping como opção derivacional, em razão das “Condições de Economia” do Sistema Computacional, especialmente o princípio Move F (formulado por Chomsky, 1995). De acordo com a APP, é somente através da escolarização ou de outras formas de letramento que as pessoas podem aprender a usar relativas pied-piping, do contrário nunca as aprenderão. Portanto, a estrutura pied-piping em orações relativas deve ser interpretada não só como um artefato da língua escrita, mas principalmente como um tipo de construção contrário à natureza minimalista de CHL, daí a sua antinaturalidade. Na presente tese, apresentamos a fundamentação teórica da APP, com base no Programa Minimalista chomskiano (Chomsky, 1995 e posteriores), bem como abordamos diversas implicações da hipótese, tais como a inexistência de relativas pied-piping na fala natural de crianças, de analfabetos e de indivíduos pertencentes a comunidades ágrafas, ou mesmo entre pessoas altamente letradas, desde que inseridas em contexto de uso espontâneo da linguagem. Também sustentamos a APP com iv dados de experimentos psicolingüísticos de Julgamento imediato de gramaticalidade e Leitura automonitorada, aplicados com falantes nativos do Português Brasileiro (PB) e do Português Europeu (PE) de vários níveis de escolaridade. Os resultados desses experimentos demonstram que relativas pied-piping são um tipo de estrutura problemática para os sujeitos, tanto nas tarefas de julgamento quanto nas de processamento. Esta tese argumenta contra a descrição tradicional das relativas do PB (Tarallo, 1983; Kato, 1993; Corrêa, 1998; Galves, 2001), segundo a qual PB e PE possuem sistemas diferentes de relativização. Assumimos que PB e PE, assim como o espanhol (cf. Pérez-Leroux, 1995), o francês (cf. Labelle, 1996), o inglês (cf. McDaniel et al., 1998) e possivelmente qualquer outra língua natural, devem possuir o mesmo sistema nuclear (core-grammar) de relativização preposicionada, com diferenças superficiais relacionadas aos traços morfofonológicos das línguas específicas. A APP parece ser uma hipótese relevante tanto para a teoria sintática, quanto para a aquisição e a evolução da linguagem. Como um fenômeno naturalmente impossível, relativas piedpiping não podem existir na gramática das crianças, tampouco na Faculdade de Linguagem que emergiu na evolução natural do homo sapiens.

Categorias: Teses
Autor: Eduardo Kenedy Nunes Areas