Orientador: Prof(a). Dr(a). Ana Paula Quadros Gomes
Páginas: 109
Resumo
Esta pesquisa oferece uma visão sobre a semântica aspectual em Mebêngôkre (família
Jê, tronco Macro-Jê), uma língua falada nos estados do Pará e Mato Grosso. Em São
Félix do Xingu, no Pará, há cerca de 2.120 falantes, distribuídos em mais de 30
aldeias. Embora já existam estudos sobre a língua (Stout e Thomson, 1974; Silva,
2001; Salanova, 2007; Costa da Silva, 2015; Menezes, 2018; Mendonça Junior, 2021),
o sistema aspectual ainda não está totalmente compreendido. Pesquisas anteriores
descrevem que a língua distingue entre futuro e não-futuro, além de expressar o
aspecto gramatical por meio de partículas que ocupam diferentes posições sintáticas.
No entanto, ainda não está totalmente claro quais são essas partículas e como elas
interagem com outros elementos na estrutura da sentença. O objetivo desta pesquisa é
entender como a língua faz a distinção entre os aspectos perfectivo e imperfectivo,
mapeando os operadores e as marcas gramaticais que expressam o aspecto de ponto de
vista em Mebêngôkre. A descrição e a análise fundamentam-se nos pressupostos da
Semântica Formal, conforme descritos por Gomes e Sanchez-Mendes (2018) para o
português brasileiro, e nas concepções de tempo e aspecto propostas por Klein (1994).
A metodologia adotada é a elicitação controlada, que envolve a coleta de dados por
meio de entrevistas com falantes nativos da língua e a utilização de contextos
definidos por meio de linguagem verbal ou não verbal (como imagens ou cenários).
Esse método é amplamente consolidado no estudo de línguas indígenas, conforme
demonstrado por Matthewson (2004) no Canadá, e no Brasil por Sanchez-Mendes
(2014) e Mendonça Junior (2021). Os resultados indicam que a língua marca
gramaticalmente o aspecto por meio de auxiliares na sentença, que interagem com as
formas verbais (finita e não finita). No entanto, ainda é necessário compreender com
maior precisão a natureza sintática e a distribuição desses auxiliares, sobretudo no
imperfectivo. A relevância desta pesquisa reside em sua contribuição para o
entendimento do sistema aspectual de línguas sub-representadas na literatura
linguística e ainda pouco investigadas pela linguística formal. Além disso, os dados
obtidos fornecerão subsídios para a elaboração de um livro didático sobre a semântica
do Mebêngôkre, língua reconhecida como cooficial no município de São Félix do
Xingu-PA.
Palavras-chave: Mebêngôkre (Kayapó); Semântica Formal; Línguas Indígenas Brasileiras; Aspecto Tese_Clédson_Mendonça_Junior_2024_finalGramatical.