Há uma fronteira entre a flexão e a derivação no processamento? O caso do particípio passado do português brasileiro.

Orientador: Prof(a). Dr(a). Marije Soto
Páginas: 111

Resumo

Reporta-se dois experimentos que objetivaram investigar como o particípio passado de primeira
conjugação do português brasileiro é processado. O primeiro experimento, de tarefa de decisão
lexical com priming encoberto, investigou a hipótese de que particípios com leitura
preferencialmente nominal seriam processados pela forma inteira quando sua frequência
superficial fosse alta, enquanto os preferencialmente nominais de baixa frequência e
preferencialmente verbais seriam segmentados em morfemas. Leminen et al. (2013) sugerem que
palavras derivadas de alta frequência são armazenadas em forma inteira, enquanto palavras
flexionadas sempre seriam segmentadas. A derivação equivaleria aqui aos casos de particípio
nominal, enquanto os particípios verbais seriam flexões. Dois efeitos foram encontrados:
facilitação do processamento por priming morfológico independente de categoria da palavra; e
facilitação por alta frequência sem interação com a categoria. Os resultados indicam refutação da

hipótese, mas apontou-se uma hipótese alternativa: o experimento, por lidar com palavras
isoladas, pode ter ativado uma entrada lexical verbal. Uma entrada lexical referente a um
particípio adjetivo em forma inteira poderia não ter sido ativada, sua ativação podendo ser
dependente de contexto sintático. Para testar esta hipótese, elaborou-se um experimento de
leitura automonitorada em que se inseriu os particípios, antes classificados como
preferencialmente nominais, em sintagmas nominais de sentenças (particípio adjetivo) ou em
perífrases verbais (particípio verbal). Não houve efeito de frequência ou de categoria. Os
resultados dos experimentos sugerem que o particípio passado de primeira conjugação é sempre
segmentado e refutaram a hipótese alternativa. Contribui-se, assim, para o debate ainda pouco
explorado sobre o processamento de palavras morfologicamente ambíguas, entre flexão e
derivação.


Palavras-chave: processamento lexical; morfologia; particípio passado; psicolinguística

Categorias: Dissertações
Autor: Leonardo Cabral