Título: Variação na expressão de passado-no-passado: uma comparação entre o português brasileiro e o português europeu
Orientador:Maria da Conceição de Paiva
Páginas:252
Linha de pesquisa:
Nesta tese, focalizamos o uso variável das formas verbais passado mais-que-perfeito simples, passado mais-que-perfeito composto e passado simples na codificação de passado-no-passado no português brasileiro e europeu falado e escrito. Nosso principal objetivo é identificar as motivações para o uso dessas variantes e discutir suas funções discursivas. Para a fala, analisamos dados da Amostra Censo 2000 e da Amostra Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias, representativos, das cidades Rio de Janeiro e Lisboa. Para a escrita, analisamos textos de diferentes gêneros discursivos (notícia, carta do leitor, crônica, entrevista e editorial) publicados, entre 2002 e 2012, em diferentes jornais e revistas brasileiros e portugueses. A análise dos dados indica o desaparecimento de passado mais-que-perfeito simples na fala. Em ambas as variedades, a variação, nessa modalidade, entre as formas de passado-no-passado é restrita às variantes passado simples e passado mais-que-perfeito composto. No entanto, na escrita, o passado mais-que-perfeito simples pode ser atestado e assume uma importante função semântico-discursiva. Com base em pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista e da Linguística Funcional Centrada no Uso, chegamos a duas conclusões principais. Destaca-se, para a variação entre passado simples e passado mais-que-perfeito composto, o acentuado paralelismo entre fala e escrita no tocante às motivações que controlam o uso da forma simples. Embora não possa ser descartada a influência de fatores morfossintáticos, a análise depreende evidências de que o uso de passado simples com significado de passado mais-que-perfeito é um fenômeno, essencialmente, semântico-discursivo, como indica o efeito regular das variáveis tipo de ponto de referência e tipo sintático da oração. A interpretação de passado simples como passado-no-passado é basicamente orientada por um princípio de temporalidade, subjacente à relação causa-efeito. Sobressai, na análise da escrita, que a variante passado mais-que-perfeito simples, a menos produtiva, constitui uma importante estratégia discursiva para imprimir maior grau de proeminência ao estado-de-coisas descrito em contextos geralmente associados a informação de fundo. Quando em variação com o passado simples, no entanto, o passado mais-que-perfeito simples parece estar a serviço da necessidade de precisão do significado temporal.