Mudança na rede construcional do sintagma nominal para pronome: a construcionalização de a gente

Título: Mudança na rede construcional do sintagma nominal para pronome: a construcionalização de a gente
Orientador: Maria Maura da Conceição Cezario
Páginas: 176

Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar uma rede construcional dos coletivos de pessoas licenciada pela construção abstrata [(X) NCOLET SG (Y)], que pode explicar a formação histórica das microconstruções a gente (artigo + substantivo), muita gente; o povo; todo o mundo, dentre outras, e a construcionalização da forma pronominal a gente, no português. Em outras palavras, a pesquisa visa a observar a mudança que ocorreu com o uso de a gente (determinante + substantivo), que deixou de ser SN com valor de coletivo e se tornou um pronome. Dentro dessa perspectiva, desenvolve-se a representação de uma rede para demonstrar a formação da construção pronominal.

A partir do referencial teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso, busca-se debruçar sobre os dados nos seus contextos reais de comunicação, unindo o papel da frequência de uso das construções linguísticas a fatores cognitivos que expliquem os aspectos sintático- semânticos do sistema da língua. O modelo teórico utilizado nesta tese é o da Construcionalização/Mudanças Construcionais, com base em Traugott & Trousdale (2013) e Traugott (2015), que entendem o surgimento de uma nova construção através dos micropassos de mudança. O modelo da Gramática de Construções (nos termos de GOLDBERG, 1995; 2006, CROFT, 2001) também foi usada para explicar o conceito de que uma construção é qualquer unidade com pareamento forma-sentido bem como a rede de construções.

Para fundamentar a proposta, estabelece-se uma análise qualitativa e quantitativa de dados do século XVI ao XX em corpora de língua escrita, cujo gênero discursivo é composto por cartas. Como o foco da pesquisa é verificar como o esquema abstrato [(X) NCOLET SG (Y)] contribuiu para a formação da construção pronominal a gente, gerando um novo nó na rede, buscaram-se três parâmetros importantes para uma análise construcional: esquematicidade, produtividade e composicionalidade. Verificou-se, com isso, que a construção [(X) NCOLET SG (Y)] é parcialmente esquemática, pois apresenta partes que podem ser preenchidas pelos falantes, e é produtiva, uma vez que houve aumento da frequência de tipo e de ocorrência nos subesquemas [(X) gente (Y)], [(X) povo (Y)] e [(X) mundo (Y)] instanciados por ela. Quanto à composicionalidade, entende-se que a construção a gente, ao se construcionalizar, perdeu o sentido de suas partes, se tornando menos transparente.

Categorias: Teses
Autor: Bruna das Gracas Soares