Título:Contato linguístico TIkuna -Português no Alto Solimões- Amazonas: um estudo sobre a variedade de português falada por professores Tikuna
Orientador: Marília Lopes da Costa Facó Soares
Páginas: 268
Resumo
Esta tese apresenta resultados de uma pesquisa, por meio da qual objetivou-se registrar, analisar e caracterizar a variedade de português de contato falada por professores da educação básica, pertencentes à etnia Tikuna, moradores de comunidades do município de São Paulo de Olivença, na mesorregião do Alto Rio Solimões, no Amazonas. Por meio do registro, da análise e da caracterização do Português Tikuna, buscou-se, também, identificar o estágio aquisitivo e os graus de fluência desses professores no que diz respeito ao português falado por eles como segunda língua. Para alcançar os objetivos, foram analisados dados de fala de vinte e três (23) professores da educação básica. Dezenove (19) deles estão em processo de formação universitária, cursando Pedagogia Intercultural Indígena na Universidade do Estado do Amazonas, três (3) são professores da educação básica que se tornaram estudantes de pósgraduação e um (01) é professor da educação básica da comunidade de Vendaval, graduado pelo programa do Terceiro Grau Indígena da Organização Geral dos Professores Tikuna Bilíngues – OGPTB. Na análise, partimos da seleção de fenômenos linguísticos que englobam aspectos fonético-fonológicos e morfossintáticos dessa variedade, investigando possíveis condicionamentos das variações em jogo, tais como: a) presença de traços particulares relacionados a mecanismos de transferência da L1 para L2 nesse processo de aquisição da segunda língua, b) replicação de condicionamentos conforme os falantes nativos do Português Brasileiro, c) apresentação de alguma semelhança com outras variedades de português indígena do Brasil. Adotamos, como basilares para a fundamentação teórica de nossa pesquisa, os pressupostos do Contato Linguístico e da Sociolinguística, a partir de trabalhos como o de Weinreich (1953), Thomason e Kaufman (1988), Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]), Winford (2003), Thomason (2001), Matras (1998, 2009), dentre outros, por nos possibilitarem analisar efeitos do contato linguístico na variedade de português falada pelos professores Tikuna que elencam nosso estudo, principalmente no que se refere à aquisição de segunda língua, ao bilinguismo e à variação. De forma mais específica, em nossa análise, com relação à investigação sobre identidade e usos linguísticos relacionados ao contato, lançamos mão de autores cujos trabalhos contêm discussões que, podendo ser levadas a cenários com encontros de culturas e/ou de línguas, são proveitosos para a nossa investigação, como, por exemplo, além dos já citados anteriormente, Fishman (1967,1975), Labov (2008 [1972b]), Tabouret-Keller (1998), Appel & Muysken (2005), entre outros. Naquilo que envolve especificamente a língua Tikuna no quadro do presente estudo, recorremos a trabalhos voltados para a análise dessa língua tal como é falada no Brasil: Soares (1984, 1986, 1991, 1992a, 1992b, 1994, 1995, 1997, 2000a, 2000b, 2005a, 2005b, 2017). Já no que diz respeito aos temas da identidade e do uso linguístico, acrescidos das questões relativas à variação existente no português brasileiro, especificamente nas variedades faladas por indígenas, valemo-nos de estudos como os de: Emmerich (1984), Mollica (1997), Paiva (1997), Christino & Lima e Silva (2012), Amado (2015), Braggio (2015), entre outros. Assim sendo, ao lado do método etnográfico, seguimos procedimentos adotados em pesquisas sociolinguísticas, com especial atenção à representatividade da amostra, à identificação e ao agrupamento de fatores sociais que caracterizam os participantes e se relacionam a fenômenos linguísticos por eles manifestos. Os resultados apontam que o contato com falantes nativos de PB tem culminado em uma variedade do Português Tikuna que, dentre outros fatores, apresenta: 1. transferência da L1 nos níveis estudados; 2. replicação de condicionamentos conforme falantes nativos do PB ; 3. semelhança com outras variedades indígenas de PB. Os dados que evidenciam a presença de elementos particulares da língua Tikuna na variedade de português usada por esses professores constituem um elemento significativo na caracterização do Português Tikuna. Cabe, ainda, dizer que os fatores socioculturais, relacionados à dinâmica do contato linguístico, à identidade e aos usos linguísticos repercutem na variedade do português falado pelo grupo investigado e determinamo continuum linguístico que se estabeleceu a partir dos diferentes estágios e fluências dos professores participantes de nosso estudo.